domingo, 5 de setembro de 2010

"POPULARIDADE - Efeito ´Lula´ faz Dilma subir 33% nas pesquisas em 1 ano"

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Serra começou com 38% na corrida eleitoral e está com 27%
FOTO: PAULO WHITAKER/REUTERS

A Participação do presidente Lula e de Dilma em eventos de aliados nos Estados tem sido intensa. Em alguns casos a tática não apresentou resultados como no Paraná
FOTO: ROBERTO STUCKERT FILHO

Em julho de 2009, a então ministra da Casa Civil era uma ilustre desconhecida. Muita coisa mudou em um ano

Entre junho de 2009 e agosto de 2010, a candidata do Partido dos Trabalhadores (PT) à Presidência da República, Dilma Rousseff, cresceu 33 pontos percentuais nas pesquisas de intenção de voto do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope). Na primeira pesquisa apenas 15% dos eleitores disseram ter ouvido falar nela, contra 49% que afirmaram conhecê-la pouco.

Um ano e um mês depois o cenário é outro, 69% acham que Dilma será a próxima presidente do País e só 20% acreditam que Serra será o vencedor. A petista conseguiu colocar 24 pontos de distância do candidato tucano e marcha célere para a vitória no primeiro turno.

Para o professor do curso de Ciências Políticas da Unifor, Rosendo Amorim, as pesquisas demonstram, na prática, os efeitos do fenômeno "Tsunami Lula", isto é, a alta popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva materializada no apoio popular à candidata indicada por ele para sucedê-lo.

"Em primeiro lugar, Dilma tem um cabo eleitoral forte, que se engajou na campanha para elegê-la há dois anos. Lula foi extremamente hábil politicamente, sem levar em conta um lastro de discussão mais profunda e condições objetivas para isso", frisa.

Destaca que o atual governo tem 80% de aprovação, outro fator positivo para sua candidata. "O único setor que poderia prejudicar o intento do presidente seria a economia, mas ela está de vento em popa. Qual o discurso de Dilma? Ela diz que vai continuar o que o presidente Lula vem fazendo. É isso que o povo quer saber. Ele não quer saber se ela foi terrorista ou assaltante de banco, quer saber se ela vai manter o Bolsa Família e a nova classe média quer saber é se vai continuar com o atual nível de renda", frisa.

Para o professor Rosendo está se repetindo o mesmo fenômeno que aconteceu no Plano Cruzado, em 1986, lançado pelo então presidente José Sarney, quando o PMDB, partido do governo, conseguiu eleger 22 governadores.

"Lula com seu discurso fez com que a população acredite que Dilma será a continuadora de sua obra. O Serra (José Serra candidato a presidente da República pelo PSDB) com toda sua experiência foi praticamente atropelado pelo "Tsunami Lula" e nos estados a coisa vai se repetir, aqui com o Cid (Gomes), por exemplo", diz Rosendo.

Segundo o professor, Lula conseguiu ficar acima das crises e dos problemas que aconteceram ao longo do seus dois mandatos. Diz que objetivamente o governo deixou de avançar em pontos cruciais e não fez nenhuma reforma, nem a da previdência, nem a política ou a econômica, "mas isso não está preocupando o povo", diz.

Sem mudanças

Para o deputado José Guimarães (PT), a evolução de Dilma nas pesquisas é o reflexo do acerto político do governo, da responsabilidade que tem o presidente, tudo dentro do programado. "O País vive um bom momento, o povo não quer mudanças. Mudar para quê? Para o duvidoso? O governo acertou, o PT acertou", destaca.

Indagado se Dilma tem seus méritos ou deve seu crescimento somente ao presidente Lula, como afirmam os seus adversários, o deputado cearense diz que ninguém pode tirar os méritos da ex-ministra, nem do governo e muito menos do PT nesse processo.

"Temos três coisas que consolidaram essa liderança: a avaliação positiva do governo; a grande aliança que construímos em torno de Dilma, com diversos partidos aliados, que com certeza dará uma sustentação ao seu governo e a força social do PT. Por tudo isso acredito que a eleição será definida logo no primeiro turno. Não podemos ter salto alto ou posicionamentos antidemocráticos. Vamos continuar trabalhando, com humildade e serenidade", disse o parlamentar.

TUCANO
Queda teve início com propaganda eleitoral

Se a candidata do PT a Presidência da República, Dilma Rousseff, só ascendeu nas 14 pesquisas realizadas em um ano e um mês, o candidato do PSDB, José Serra, tem oscilado entre subidas e descidas na intenção de votos. Em julho de 2009, Serra estava com 38%.

Em setembro desceu para 34% e no mês seguinte subiu para 41%. Em novembro e dezembro ele ficou no patamar de 39% para voltar a crescer para 41% em fevereiro deste ano. Em março voltou para 38%. No mês seguinte retornou a casa dos 40%. A partir daí a queda foi vertiginosa: 37% (junho), 34% (julho), 32% e 27% (no mês de agosto).

A derrocada de Serra começou com o início oficial da campanha eleitoral em julho. No mês anterior, mesmo na pré-campanha, a candidata do PT conseguiu ficar empatada com ele em 37%. Com o início da propaganda eleitoral a liderança da petista se consolidou.

A presença constante do presidente Lula na propaganda de Dilma na TV e em eventos de grande porte da campanha ampliaram a diferença. No interior do País, principalmente no Nordeste, Dilma é conhecida como a "mulher de Lula".

O próprio Lula tem usado uma "alcunha" para ampliar a popularidade da Dilma - a de mãe. Primeiro mãe do PAC, agora do Brasil.

Para o deputado Raimundo Gomes de Matos (PSDB), o marketing do PT atrelando o presidente Lula a candidata Dilma contribuiu de modo direto para esse resultado. "Da mesma forma que a falta da regionalização da campanha de Serra, que defendo desde o início da campanha, tem reflexo", diz.

Para o parlamentar, as denúncias do envolvimento do comitê de Dilma Rousseff na quebra do sigilo fiscal de pessoas ligadas a Serra, apesar de grave, parece não fazer efeito junto ao eleitor, "o País está anestesiado ante a corrupção, ante o desmando, a ponto do presidente da República achar que isso é comum e que a Justiça deve reavaliar, desde o mensalão aos desvios de recursos. Isso infelizmente não chega à população. O cidadão até que fica indignado, mas o presidente sai ileso", observou, sugerindo que o presidente da Receita Federal, Otacílio Cartaxo, seja exonerado.

"Se fosse um caso esporádico, mas são várias pessoas de um partido que tiveram a quebra de sigilo, algo direcionado. Com tudo isso, a população não reage, não existem mais os caras pintadas. O País está acomodado com os rumos de mudanças do modelo administrativo brasileiro", concluiu.

ESTRATÉGIA
Opositores na corda bamba na disputa pelo Senado

O objetivo do presidente Lula de derrotar senadores da oposição para que Dilma Rousseff, se eleita, não passe por tantas dificuldades, como ele, nas votações da Casa, vem sendo conquistada parcialmente. Alguns dos ferrenhos adversários estão na corda bamba.

É o caso do senador Heráclito Fortes (DEM-PI) que amarga o terceiro lugar nas pesquisas com 14%, atrás de Wellington Dias (PT) com 42% e Mão Santa (PSC), com 22%. Agripino Maia (DEM-RN) é outro ameaçado. Tem 47% contra 40% de Vilma. Marco Maciel (DEM-PE) está em segundo com 37% mas é acossado por Armando Monteiro, com 28%.

Na Paraíba, Efraim Morais (DEM) é terceiro com 25%, atrás de Cássio Lima (PSDB) com 46% e Vital ((PMDB), com 29%. Flexa Lima (PSDB-PA) é o terceiro, mas pode ser beneficiado se Jader Barbalho for cassado pela lei Ficha Limpa. No Amapá, Papaléo Paes (PSDB) está em quinto. Outros adversários, no entanto, não estão encontrando tanta dificuldade. No Amazonas Artur Virgílio (PSDB) está em segundo com 57%. No Ceará, Tasso Jereissati (PSDB) lidera com folga com 63% e em Goiás, Demóstenes Torres (DEM) está com 43%.

GOVERNADOR
Influência nos Estados é decisiva

De acordo com as últimas pesquisas de intenção de voto para governador, até o presente momento, a influência do presidente Lula tem sido decisiva para a vitória dos candidatos da base de apoio. Nos 26 Estados e no Distrito Federal, os aliados do presidente lideram em 14, perdem em sete e em oito disputam voto a voto.

Nos dois maiores colégios eleitorais do País, a influência de Lula encontra forte resistência. Em São Paulo, Estado que o PSDB governa há 16 anos, o candidato tucano Geraldo Alckmin lidera com folga de 47% contra 23% do candidato petista, o senador Aloizio Mercadante. O presidente Lula promete ir quatro vezes ao Estado tentar reduzir a distância que antes do horário eleitoral era de 36 pontos percentuais.

Em Minas, a maior presença do ex-governador Aécio Neves, candidato ao Senado, na campanha do atual governador Antonio Anastasia alavancou o tucano nas pesquisas em 14 pontos ultrapassando o então favorito, Hélio Costa (PMDB.

No Rio, o candidato apoiado por Lula, Sérgio Cabral com 56% deve ser eleito no primeiro turno com folga. Na Bahia o petista Jacques Wagner também tem liderança folgada de 31 pontos do segundo colocado o democrata Paulo Souto.

No Rio Grande do Sul o petista Tarso Genro tem uma disputa acirrada com José Fogaça. No Paraná o aliado Osmar Dias (PDT) está 16 pontos atrás do líder, Beto Richa (PSDB). Em Pernambuco, outro governista, o atual governador Eduardo Campos (PSDB) está virtualmente eleito com 69% dos votos segundo o Ibope, contra 20% de Jarbas Vasconcelos (PMDB).

No Ceará, outro socialista também tem amplas chances de ser vitorioso no primeiro turno - Cid Gomes tem 61% contra 17% dos segundo colocado, o ex-governador Lúcio Alcantara, uma diferença de 44%.

Já em Santa Catarina a petista Ideli Salvatti amarga a terceira colocação com 16% na disputa liderada por Ângela Amin (PP) que tem 31% mas está na briga direta contra o senador Raimundo Colombo (DEM), que tem 27%. No Pará outra petista está atrás na disputa. A governadora Ana Júlia Carepa tem 33% contra 43% do tucano Simão Jatene. No Maranhão, Roseana Sarney (PMDB) está na frente de Jackson Lago (PDT) com 47% a 25%.

Na Paraíba dois aliados disputam, o peemedebista José Maranhão, que lidera a disputa com 53% e Ricardo Coutinho, com 31%. No Espírito Santo, o senador Renato Casagrande (PSB) é o grande favorito com 60% nas pesquisas. No Rio Grande do Norte a opositora Rosalba Ciarline é líder com 45%. No Piauí o jogo está embolado entre Wilson Martins (PSB) e João Vicente Claudino (PTB) e o tucano Silvio Mendes.

MARCELO RAULINO
REPÓRTER - DN.

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