sexta-feira, 1 de outubro de 2010

"Internacional CRISE NO GOVERNO - Estado de exceção no Equador"

Caos em Quito: manifestantes queimaram pneus, e o presidente Rafael Correa foi atingido por uma bomba de gás lacrimogêneo; vice afirma que tentaram sequestrar Correa.
FOTO: GUILLERMO GRANJA/REUTERS

Policiais se rebelam e presidente Rafael Correa afirma que houve tentativa de golpe; uma pessoa morreu.

Quito. O caos tomou conta do Equador, ontem, quando soldados assumiram o controle do principal aeroporto do país e policiais saíram às ruas em protesto. O presidente Rafael Correa acusou rivais de tentarem um golpe de Estado e declarou estado de exceção para que os militares assumam as tarefas dos policiais.

O ministro de Segurança do Equador, Miguel Carvajal, afirmou que pelo menos uma pessoa morreu e algumas ficaram feridas nas manifestações.

Na capital Quito, centenas de soldados uniformizados queimaram pneus em protesto a uma proposta do governo para cortar seus benefícios e tomaram a pista de pousos do aeroporto internacional, fechada para voos.

Correa, visivelmente agitado, desafiou os manifestantes. "Senhores, se vocês querem matar o presidente, aqui está ele. Me matem se vocês quiserem. Me matem se vocês tiverem coragem", gritou.

Ele também advertiu aos policiais que não cederá ante os protestos. "Não darei nenhum passo atrás. Se quiserem, tomem os quartéis, se quiserem deixar a cidadania indefesa e se quiserem trair sua missão de policiais", afirmou Correa.

Mais tarde, Correa foi atacado por manifestantes e precisou ser levado ao hospital. "Eles atiraram bombas de gás lacrimogêneo contra a gente. Uma explodiu perto do meu rosto. A bomba teve efeito em mim e em minha mulher por alguns segundos, provavelmente minutos", afirmou o presidente.

O vice-presidente do Equador, Lenín Moreno, afirmou que um grupo de manifestantes tentou sequestrar Correa e cercou o Hospital da Polícia Nacional, onde ele foi atendido. No quarto do hospital, onde está praticamente sitiado, Correa reuniu-se com uma delegação de representantes dos policiais, acompanhados de um advogado. O presidente afirmou que só negocia se os policiais terminarem o protesto. Ele também disse que não vai autorizar uma operação para resgatá-lo no hospital para evitar um "banho de sangue".

Testemunhas disseram haver saques em Quito e na cidade de Guayaquil, e que muitos funcionários e estudantes retornaram para suas casas.

O chefe do Comando Conjunto das Forças Armadas do Equador, o general Ernesto González, pediu aos policiais que desistam do protesto e garantiu que seus direitos serão respeitados. Ele ainda garantiu que "se for necessário intervir, interviremos na situação".

Preocupação brasileira:
A crise política no Equador está sendo acompanhada "com preocupação" pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirmou o assessor especial da Presidência, Marco Aurélio Garcia.

Lula conversou sobre a situação com o presidente venezuelano Hugo Chávez por telefone. Chávez tranquilizou Lula, informando-o de que a situação já estava contornada.

O Ministério das Relações Exteriores do Brasil manifestou total apoio e solidariedade do País a Correa e às instituições democráticas equatorianas.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) repudiou "qualquer tentativa de alteração da institucionalidade democrática no Equador" e conclamou os policiais a "evitarem qualquer ato de violência que possa exacerbar uma situação de instabilidade política".

O governo dos EUA também condenou a manifestação. "Deploramos todo tipo de violência", disse Luoma-Overstreet, porta-voz do governo.

Fique por dentro:
Entenda a crise
O presidente Rafael Correa despertou a fúria dos policiais ao tentar aprovar no Congresso uma série de medidas que visam reduzir benefícios e promoções, o que impactaria diretamente nos salários dos agentes. Correa chegou a afirmar que poderia dissolver o Congresso e convocar eleições antecipadas caso os parlamentares não aprovassem suas medidas.

O estado de exceção pode ser decretado pelo líder de um país em situações de emergência. A medida inclui a suspensão temporária das garantias constitucionais, a possibilidade de o toque de recolher e dá às Forças Armadas amplos direitos para garantir a segurança.

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