sábado, 16 de outubro de 2010

"HOSPITAL MENTAL DE MESSEJANA - Pacientes amarrados à espera de leito, diz médico"

Denúncia de secretário regional da ABP, José de Anchieta, é refutada pela direção do hospital, para quem os pacientes são amarrados para atender prescrição médica.
FOTO: MIGUEL PORTELA

Somente ontem, 13 pessoas estavam na fila de espera por leitos no Hospital de Saúde Mental de Messejana.

Há três dias, 22 pacientes encontram-se amarrados em macas esperando internação no Hospital Mental de Messejana. A denúncia foi feita, ontem, durante a comemoração alusiva ao Dia Mundial da Saúde Mental, pelo Secretário Regional Nordeste da Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), José de Anchieta Cruz Maciel.

Para o médico, essa situação demonstra o descaso com a saúde pública nos hospitais que tratam pacientes com transtornos mentais. "A assistência aos doentes mentais em Fortaleza, assim como em todo o País, é precária. A falta de vagas e equipamentos ambulatoriais adequados para o tratamento complicam, ainda mais, o problema e trazem mais sofrimento aos pacientes e às suas famílias".

Ontem, à tarde, a reportagem do Diário do Nordeste foi até o hospital ouvir a direção da unidade sobre a denúncia feita pelo representante da ABP. Conforme o diretor geral do HSMM, Marcelo Theophilo, os pacientes citados já estão internados, e foram amarrados para atender a uma medida prescrita por médicos a fim de prevenir qualquer trauma físico causado por eles em momento de agitação.

O diretor geral do HSMM, Marcelo Theophilo, informou que a instituição possui 240 leitos, porém 30 estão bloqueados pois passam por reformas. "Efetivamente temos 150 leitos convencionais que já estão ocupados", explicou. Os outros 60 correspondem as vagas dos hospitais dia, que atendem a pacientes com problemas mentais ou que usam de álcool ou drogas.

A diretora técnica Magaly Ferreira Mendes informou que essas últimas 60 vagas, também estão lotadas. Com relação ao total de atendimentos feito pelo hospital, ela disse que, em média, são realizados de 40 a 50 por dia. "Esse número varia muito. Hoje, por exemplo, atendemos 27 pacientes. E temos 13 homens à espera de um leito para serem internados".

Acompanhamento:
Já para o psiquiatra da ABP, os Centros de Atenção Psicossocial (Caps), mantidos pela Prefeitura de Fortaleza, não funcionam. Ele explica que os pacientes com doença mental precisam de um acompanhamento médico rigoroso, necessitando serem consultados por um psiquiatra pelo menos a cada 15 dias. Contudo, segundo o especialista, nos Caps o tempo de espera para uma consulta pode chegar a três meses.

"Se os hospitais psiquiátricos acabarem, essas pessoas com deficiência mental grave, que obrigatoriamente precisam de um acompanhamento mais complexo, irão ficar sem atendimento, porque os Caps não podem interná-los. O paciente grave deve ser sim internado e acompanhado, não mandado de volta para casa", ressalta Anchieta.

Hoje, existem 14 Centros de Atenção Psicossocial em Fortaleza, onde trabalham 378 profissionais. Os Caps fazem parte da política adotada pela Prefeitura de substituir, paulatinamente, o tratamento exclusivo em hospitais psiquiátricos.

Esquizofrenia, depressão e transtorno bipolar são somente alguns dos tipos de doença mental grave. A assessoria da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou que os Caps não realizam nenhum tipo de internação e que está em andamento o projeto de criação de Centros que irão possibilitar essa ação.

INTERNAÇÃO:
Santa Casa amplia atendimento

Em relação à espera por atendimento nos Centros de Atendimento Psicossocial (Caps), Rane Félix, da Coordenação Colegiada de Saúde Mental, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), informou que “os centros dão prioridade a pacientes egressos de instituições psiquiátricas, aos que têm histórico de tentativa de suicídio ou quando se trata da primeira crise”.

A explicação da representante da Saúde Mental da SMS, é devido à denúncia feita pelo secretário da Regional Nordeste da Associação Brasileira de Psiquiatria, José de Anchieta Cruz Maciel. Segundo ele, o tempo de espera para atendimento nos Caps pode chegar a três meses. O que comprometeria a saúde desses pacientes, pois muitos são casos de urgência.

Rane Félix destacou que esse problema na espera se dá, muitas vezes, quando a pessoa não reside na Capital. Com relação aos casos de internação, ela acrescentou que a Prefeitura deve inaugurar, ainda este semestre, 12 leitos na Santa Casa de Misericórdia.

“As unidades devem atender aos dependentes em álcool e drogas. Como não podemos ampliar o número de leitos nos hospitais psiquiátricos, pretendemos fazer uma sensibilização nos hospitais clínicos, a fim de que eles recebam com mais facilidade os pacientes que apresentem complicações”.

Ela informou que os investimentos na Saúde Mental são constantes, e que graças aos Caps a necessidade de internações tem diminuído.

THAYS LAVOR E JÉSSICA PETRUCCI
REPÓRTER/ ESPECIAL PARA CIDADE - DN.

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