sábado, 16 de outubro de 2010

"CELEBRIDADES - Mineiros já organizam divisão de pagamentos"

Jaula que resgatou os operários fará parte de uma exposição junto com um vídeo; cápsula subiu e desceu 78 vezes pelo túnel.
REUTERS/DAVID MERCADO

Todo o dinheiro obtido por cada um dos resgatados irá para um fundo comum e depois será dividido igualmente

Copiapó. As histórias dos 33 mineiros presos na mina San José durante 69 dias estão sendo disputadas na base de gordos cachês por emissoras de televisão de todo o mundo. Editoras estapeiam-se pelo privilégio de editar os diários da vida subterrânea e as cartas que vários mineiros escreveram durante o período de cativeiro.

As ofertas são tantas e tão diferentes, que os trabalhadores já discutem como se organizar para explorar a marca "33" da melhor forma possível para todos. Um escrivão foi chamado para elaborar o contrato pelo qual todo o dinheiro obtido por cada um dos resgatados iria para um fundo comum e depois seria dividido entre todos.

Também se negociam os direitos para levar a tragédia chilena com final feliz à tela. Nome: "Os 33". Os mineiros teriam participação na bilheteria.

Apenas dois mineiros ainda não receberam alta. Eles foram transferidos para um novo centro médico. Um deles fará um tratamento dentário, enquanto o outro tratará uma síndrome que lhe causa náuseas.

Alguns dos trabalhadores querem voltar a trabalhar em minas. "Não temos nada a temer. Temos de continuar trabalhando", afirmou Osmán Araya. "Sou mineiro de coração", disse Alex Vega.

Segundo o ministro chileno da Saúde, Jaime Mañalich, não é recomendável que voltem a trabalhar em uma mina. "Para alguns o retorno é totalmente imprudente", afirmou. Os operários passaram 69 dias isolados a 622 metros de profundidade em condições desumanas em uma mina em pleno deserto de Atacama.

Segundo Mañalich, os mineiros enfrentarão tempos difíceis nos próximos dias com angústia, pesadelos e temores, devido ao impacto emocional. O ministro relatou que um deles lhe disse que, quando despertou no hospital, não sabia onde estava.

"Estamos entregando às famílias e à sociedade pessoas que estão frágeis e pensar que daqui a uma semana esses homens terão uma vida normal e tranquila, eu creio que é a hipótese menos provável", concluiu Mañalich.

Novo acidente:
Ontem, o mineiro Roberto Benítez, de 26 anos, morreu no Chile após uma rocha de uma tonelada cair em cima de seu corpo enquanto trabalhava a mil metros de profundidade em uma jazida da região de Valparaíso, informaram as autoridades chilenas.

Ainda na noite da última quinta-feira, Benítez trabalhava no interior da mina na região de Valparaíso colocando uma cunha na rocha, para evitar que ela deslizasse, quando esta caiu em cima dele, causando uma morte instantânea.

Na quinta-feira, o presidente do Chile, Sebastián Piñera, prometeu que nunca mais um mineiro trabalharia em condições de risco no país. "Não podemos garantir que não haverá mais acidentes. Mas podemos garantir que nunca mais se trabalhará em condições tão desumanas como na mina San José", afirmou Piñera.

O ministro do Interior chileno, Rodrigo Hinzpeter, também garantiu mais segurança. "Nos comprometemos que nunca mais um acidente se produza por falta de fiscalização do Estado", assegurou.

O país deve ainda alterar e melhorar a legislação para garantir mais segurança no setor e "adotar padrões internacionais", acrescentou o presidente chileno.

PROTAGONISTA DE OPERAÇÃO:
Cápsula será levada em giro pelo mundo

Copiapó. Ela foi a heroína silenciosa no miraculoso resgate dos 33 mineiros do Chile, mas agora a Fênix 2 - a cápsula de metal usada para retirá-los das profundezas - vai ser levada em um giro mundial, com o tratamento de celebridade.

A cápsula foi observada por centenas de pessoas em todo o mundo quando surgia das cinzas como um pássaro mítico, resgatando os mineiros um a um, depois de 69 dias soterrados a 688 metros de profundidade numa mina no deserto do Atacama, no norte do país.

"Pediram-nos para levar a cápsula em um giro mundial, como parte de uma exposição, com vídeo", afirmou o ministro do Interior, Rodrigo Hinzpeter.

Pintada em vermelho, branco e azul - as cores da bandeira chilena - a cápsula é apenas um pouco mais larga do que os ombros de um homem e parece ser um foguete espacial em miniatura. A Nasa, a agência espacial dos Estados Unidos, orientou o governo do Chile sobre o formato da cápsula usada na complexa e impecável operação. Ela estava equipada com tanques de oxigênio e dispositivos de comunicação.

Ao longo de 24 horas de operação, a Fênix sofreu com as batidas e arranhões dentro do túnel construído para sua passagem, por onde subiram os 33 mineiros e seis membros da equipe de resgate.

O nome da cápsula foi escolhido pelas autoridades chilenas em alusão ao mito da ave Fênix, que renasceu das cinzas. Antes de embarcar na jaula de 53 centímetros de diâmetro, os mineiros vestiram um macacão especial, luvas, capacete, óculos escuros (para se acostumarem lentamente à claridade) e protetores de ouvido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário