segunda-feira, 8 de novembro de 2010

"PEDIDOS DE ALIADOS - Dilma teria de criar 21 cargos"

Dilma Rousseff venceu as eleições com a promessa de acomodar dez partidos na Esplanada.
FOTO: MARCELLO CASAL JR/AGÊNCIA BRASIL

Para agradar toda a base aliada do governo, a presidente eleita seria obrigada a aumentar o número de ministérios.

Brasília. Se a presidente eleita Dilma Rousseff decidisse contemplar todos os pedidos dos 12 partidos de sua base, teria de ampliar o tamanho da Esplanada de 37 para no mínimo 58 ministérios.

Sua maior dor de cabeça será a indicação de nomes para os disputadíssimos ministérios dos Transportes, Cidades e Integração Nacional, cobiçados por cinco siglas: PMDB, PT, PSB, PP e PSC. O poder de investimento dessas pastas explica a atração que exercem: são R$ 31,9 bilhões livres para obras neste ano (46% do total de toda a Esplanada) e uma previsão generosa para o próximo.

O Ministério das Cidades, com orçamento de investimentos de R$ 8,2 bilhões, está hoje nas mãos do PP. E é o campeão em número de postulantes no governo Dilma. Quatro legendas (PMDB, PT, PSB e PP) competem entre si.

Já Transportes, controlado atualmente pelo PR, é disputado por PMDB e PT. A pasta tem o maior orçamento para obras: R$ 16,4 bilhões.

As pastas de Cidades e Transportes ganharão mais vulto com a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016. Praticamente toda a receita desses ministérios vem do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

Dilma planejava colocar nessas áreas titulares de sua extrema confiança e profissionalizar mais os ministérios. Mas terá que superar a ansiedade de seus aliados.

A petista fez sua campanha presidencial ao lado do mais robusto arco de alianças. Venceu a eleição com a promessa de acomodar dez partidos. Além deles, PP (oficialmente neutro) e PTB (que apoiou José Serra) também querem espaço governo. Embora a partilha de cargos atenda a certas peculiaridades, há uma tradição em Brasília de levar em conta o desempenho nas urnas. O PSB conquistou seis governadores. Como possui hoje dois ministérios de pouco peso (Ciência e Tecnologia e Portos), deve ganhar pelo menos mais um.

Há 20 ministérios em disputa, mas o foco da cobiça parece recair sobre o patrimônio do PMDB. Todas as seis pastas controladas pela legenda são desejadas por outros aliados. Os destaques são Integração Nacional, Saúde e Agricultura.

Das 17 áreas sob o comando do PT, só o Turismo teve interesse do PSC e do PTB. O PDT também estaria na disputa, mas dificilmente terá outra pasta além de Trabalho, que ocupa hoje, pois diminuiu no Senado e não elegeu governador.

Mudança:
Por causa do assédio da imprensa, Dilma antecipou para a noite do último sábado o retorno para Brasília, depois de passar três dias na isolada Praia do Patizeiro, a 21 quilômetros de Itacaré, no litoral sul da Bahia.

Segundo um funcionário da fazenda do empresário paulista João Paiva, onde ela estava hospedada, foi o assédio da imprensa que a fez retornar da folga pós-eleição. Um assessor de Dilma, porém, já havia dito que ela poderia retornar antes.

A eleita decidiu mudar-se para a Granja do Torto quando voltar da viagem que fará a Seul para acompanhar a comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião do G20.

Dilma reclama da casa alugada por R$ 12 mil mensais pelo PT no Lago Sul, área nobre de Brasília. Numa rua estreita, sua entrada e saída, sempre com o apoio da Polícia Federal, é vigiada por jornalistas. Durante seu descanso pós-eleitoral na Bahia, Dilma foi flagrada pela imprensa tomando banho de mar e andando de quadriciclo. No Torto, poderá usar helicópteros e furar o cerco.

O Torto é a residência da Presidência predileta de Lula, segundo ele mesmo, pelo tamanho da churrasqueira. Morou lá entre dezembro de 2004 e março de 2006, quando o Palácio da Alvorada estava em reforma. Dilma repetirá o antecessor, que morou em 2002 no Torto durante a transição.

DISCUSSÕES TÉCNICAS:
Palocci começa transição

Oito anos após haver comandado a histórica transição entre as administrações de Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002) e Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), Antonio Palocci volta hoje ao mesmo prédio, o Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), para iniciar a passagem entre os governos de Lula e Dilma Rousseff.

Ele recebe o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, encarregado de pilotar as discussões técnicas da transição pelo lado do governo. Formalmente, quem coordena a transição é o ministro interino da Casa Civil, Carlos Eduardo Esteves Lima. Ele ficará a cargo das tarefas mais burocráticas.

Duas equipes vão cuidar dos trabalhos, cujo objetivo é evitar interrupções no funcionamento da máquina pública durante a troca de comandos. Dilma pode nomear até 50 pessoas para assessorá-la e dispõe de R$ 2,8 milhões para pagar salários.

Na semana passada, ela enviou ao Planalto uma lista com 39 nomes que comporão a equipe num primeiro momento. Pelo lado do governo, foi designado um técnico de cada ministério para atuar como interlocutor da equipe de Dilma.

Os assessores da presidente eleita receberão senhas para acessar um portal que conterá informações de cada pasta: qual o orçamento, quais os programas em andamento e o estágio de cada um, quanto da verba já foi gasta. Foi elaborada a chamada "agenda 120", que lista problemas a serem resolvidos nos primeiros meses de governo.

A equipe de Dilma listará metas a serem atingidas nos 100 primeiros dias de governo, segundo informou o presidente do PT, José Eduardo Dutra. Enquanto Palocci cuidará da transição pelo lado técnico, o lado político será comandado pelo vice-presidente eleito, Michel Temer, além de Dutra e do deputado José Eduardo Martins Cardoso (PT-SP).

A decisão de incorporar Temer foi anunciada numa tentativa de contornar o mal-estar gerado pelo fato de Dilma haver feito sua primeira reunião de trabalho só com petistas. O PMDB reivindica mais espaço.

Entre os temas que terão de ser decididos em conjunto pelas duas equipes está o Orçamento de 2011, em tramitação no Congresso Nacional.

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