quarta-feira, 28 de julho de 2010

"Decretada prisão do soldado"

Crime teve repercussão nacional e continua comovendo as pessoas pelo País inteiro. A morte de Bruce trouxe à tona uma discussão sobre a confiança que a comunidade tem na PM
FOTO: VIVIANE PINHEIRO

O soldado Silveira já está no Presídio Militar. Ele foi transferido para o 5º BPM em um veículo descaracterizado

O soldado Yuri Silveira Alves Batista, acusado de ser o autor do disparo de pistola que tirou a vida do adolescente Bruce Cristian de Souza Oliveira, 14, na tarde do último domingo (25), teve sua prisão preventiva decretada pela Justiça Militar Estadual ontem.

Ainda ontem à tarde, em carro descaracterizado e de forma discreta para evitar a Imprensa, aconteceu a transferência do policial militar do Quartel do Batalhão de Polícia Comunitária - onde se encontrava preso disciplinarmente - para o Quartel do 5º Batalhão da PM, no Centro, onde funciona o Presídio Militar. Segundo a assessoria da PM, o soldado Silveira foi colocado numa cela comum, junto com outros presos militares.

A prisão de Yuri Silveira foi decretada pela juíza Antônia Dilce Rodrigues Feijó atendendo a uma representação do Ministério Público Estadual, na pessoa do promotor de Justiça Joathan de Castro Machado. A prisão foi solicitada sob o pressuposto da indignação social e do clamor público, conforme explicou o coronel Werisleik Ponte Matias, comandante do Ronda do Quarteirão. "Tudo está sendo feito dentro da legalidade. O policial ficará preso por tempo indeterminado, enquanto a Justiça entender que é necessário", destacou o oficial.

O promotor Joathan de Castro Machado explicou, em boletim divulgado pelo Tribunal de Justiça, ontem à noite, que "a prisão preventiva visa garantir a ordem pública e assegurar a aplicação da lei penal". Segundo Werisleik Matias, o processo administrativo disciplinar instaurado pelo tenente-coronel Jarbas Aguiar Freire para apurar o caso continua. "Ele tem 45 dias para concluir o procedimento, que determinará o futuro do policial na Corporação", disse.

Por telefone, o advogado Francisco Cordeiro Angelo, que representa o soldado Yuri, afirmou que só se pronunciaria sobre a prisão preventiva do seu cliente na manhã de hoje.

Testemunhas

Ontem, duas testemunhas do caso foram ouvidas pelo delegado José Munguba Neto. Elas estavam na guarita de um prédio próximo ao local. Hoje outras duas testemunhas serão ouvidas em depoimento no 4º DP.

O delegado também revelou que já enviou à Perícia Forense a arma utilizada pelo soldado e o capacete que a vítima estava usando.

Já está nas mãos da Polícia o DVD com as imagens do circuito interno de TV de um edifício que fica perto do local onde Bruce foi atingido pelo tiro, mas Munguba não revelou o conteúdo do material.

A Comissão Especial de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente e a Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil - Secção Ceará (OAB-Ce) estão acompanhando o inquérito policial e o procedimento administrativo que apuram a morte de Bruce.

De acordo com o advogado e presidente da Comissão Especial de Defesa da Criança e do Adolescente, Narciso Coelho, o objetivo é acompanhar de perto o inquérito policial e o procedimento administrativo, para que as investigações "possam seguir da forma mais transparente possível, evitando qualquer viés corporativo", ressaltou. Coelho esteve na tarde de ontem no 4º DP e conversou com o delegado.

MORTE DE ADOLESCENTE
Depois de 48 horas, governador fala

Após 48 horas da morte do garoto Bruce Cristian, de apenas 14 anos, assassinado com um tiro na nuca por um soldado do Ronda do Quarteirão, o governador do Estado Cid Gomes (PSB), falou pela primeira vez publicamente sobre o caso. Cid afirmou que vai acompanhar pessoalmente a investigação e que as providências já foram tomadas e continuarão sendo.

Em uma entrevista concedida na noite de ontem, depois de um evento de campanha, no comitê do partido, no bairro Cocó, Cid se dirigiu a família do garoto morto, à sociedade e aos integrantes da Polícia Militar.

"Como pai, expresso a minha mais absoluta solidariedade, o meu mais absoluto pesar pelo sofrimento que a família está passando", ressaltou. Cid afirmou que assim que soube da morte do adolescente, ao sair de um ato de campanha no Município de Guaiuba, suspendeu outro compromisso, voltou para Fortaleza e se reuniu com seus assessores para determinar que a PM se pronunciasse, no dia seguinte ao caso, e que a Secretaria de Ação Social (SAS) desse todo o apoio à família. "Nada trará de volta o jovem, mas daremos todo o apoio à família", disse.

À sociedade, o governador ressaltou que o "caso choca pela inversão de papeis, quando um inocente é morto por quem deveria dar segurança", mas destacou que o treinamento é uma prioridade, com a criação da Academia de Segurança.

O governador se dirigiu a tropa como "comandante maior" e afirmou que a categoria como um todo não pode ser colocada em uma condição de humilhação. "Também temos casos de bravura", afirmou.

NATHÁLIA LOBO / EMERSON RODRIGUES - DN
SUBEDITORA / REPÓRTER

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