domingo, 25 de abril de 2010

"PT e PSDB: adversários nas ruas, parceiros no poder."


COMO NÃO é raro que os extremos se toquem, tucanos e petistas cearenses convergem no fundamental: ambos rejeitam a idéia de formalizar uma coligação eleitoral em comum. Não aceitam amarrar as bandeiras.
POR OUTRO lado, comungam, curiosamente, de uma mesma tolerância: aceitam, sem constrangimentos, dividir assentos em torno da mesa de trabalho do mesmo governador. É assim: nas ruas, não. Já nos gabinetes...
ISTO É, NÃO aceitam se unir pela eleição do mesmo governo, mas se mostram dispostos, pelo que se viu até agora, a compartilhar seus benefícios sem a ocorrência de maiores tensões.
SERIA UM erro supor que o paradoxo se deva somente ao histórico de suas diferenças locais, versão que, por conveniência, ambos insistem em publicizar para seus eleitores. Não. Eles já engoliram sapos maiores.
A SUCESSÃO presidencial, onde PT e PSDB protagonizam uma disputa que se prevê equilibrada e, portanto, muito disputada é o fator determinante de toda a conjuntura – o “bode fedido” que se recusa a abandonar o recinto.
QUANDO DIZ que não aceita uma coligação “formal” com os tucanos, o que diz, de fato, Luizianne Lins é que a aceita, sim, em caráter informal, o que significa boa vontade para fazer vistas grossas em duas direções:
1 – TOLERA O apoio velado do governador Cid Gomes à reeleição do senador Tasso Jereissati, desde que possa emplacar o nome de José Pimentel na chapa oficial, mesmo sabendo que o partido deve cuidar de elegê-lo sozinho.
2 – ACEITA A continuidade, para 2011, da ampla coalizão de governo onde seu partido divide espaços com os que nomeia – de modo impróprio, dadas as ambiguidades – como adversários “inconciliáveis”. O adjetivo é retórico.
POR SEU lado, se o PSDB aceita apoiar apenas informalmente a reeleição do atual governador, sem receber, em contrapartida, a oportunidade de participar da coligação proporcional, o que revela?
COM TODAS as letras, confessa – se é suficiente o apoio velado do governador à reeleição de Tasso Jereissati ao senado – que, no Ceará, o PSDB existe exclusivamente para que o seu iluminado chefe brilhe.
O QUE HÁ DE promíscuo nisto é que ambos realizam a tarefa comum, e mutuamente consentida, de reafirmar, no simulacro de um conflito estéril, a consistência de suas identidades partidárias, de fato já muito danificadas.
POR TUDO que dizem Cid, Tasso e Luizianne Lins, todos aceitam continuar integrando o mesmo governo em 2011 na forma clássica de uma coalizão partidária: com votos no parlamento e cadeiras no secretariado.
TASSO E LINS: inimigos na eleição, "companheiros" no poder.

Balança, mas não cai.

HÁ POUCOS dias, Tasso Jereissati declarou: “No Ceará, o palanque do Serra sou eu”. Veja bem. Ele, em pessoa, e não o partido, mera abstração.
EM ATO político recente, quando reuniu sua base partidária, o senador pode dar uma pequena prova, ainda que por um lapso inconsciente, do quanto deseja, de fato, ver eleito presidente seu companheiro José Serra.
TASSO DISSE que fará “tudo para dar a Serra uma boa votação no Ceará” porque não quer “ser responsabilizado por nenhuma derrota”. Ou seja: vou fazer logo minha parte porque isso aí não vai dar certo.
FOI O QUE ele, o “palanque”, disse. Pense um palanque...

Faça aquilo que eu publico isso

O JORNALISMO tem um caso de amor mal resolvido com o marketing político: cobra dele a pouca ênfase dada aos conteúdos programáticos na campanha dos candidatos, mas atua na mesma direção em sua cobertura.
É A NOTÍCIA episódica – frases de efeito, trocas de acusações, a pesquisa, uma gafe – que recebe, ao final, os melhores espaços na cobertura da mesma mídia que cobra conteúdos mais consistentes dos estrategistas eleitorais.
NO CASO, FAZ a imprensa como aquele feirante que culpa o distribuidor pelo tomate verde que coloca à venda. Mas vende. “Marqueteiros” não investem na criação de fatos que não repercutem na mídia. O resto é papo furado.

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