domingo, 18 de abril de 2010

" Candidatura do PT ao governo: Seria forte (se fosse pra valer). "


DE INÍCIO, Tasso Jereissati e Ciro Gomes isolaram Lúcio Alcântara das outras forças políticas do Ceará. Depois, completaram o serviço: afastaram-se dele – a última liderança remanescente do período de exceção.

FOI ASSIM, justo como governador, quando as oportunidades de agregar são maiores, pois há tanto a oferecer, que Lúcio se viu politicamente isolado – logo ele, uma comprovada vocação para o consenso.

LÚCIO SE queixa de alguns gestos, embora ninguém possa dizer, de sã consciência, que foi, algum dia, enganado por um político, pois somos nós – e mesmo os mais experientes – que ainda nos enganamos com alguns deles.

EM 2008, Lúcio tinha potencial de votos para disputar a prefeitura de Fortaleza, como teria agora para disputar o senado com boas chances de vencer, de acordo com pesquisas de opinião mais recentes. Mas não pode.

O QUE LHE falta? Falta apoio no quadro partidário que lhe garanta suficiente tempo de exposição no palanque eletrônico. Sem o oxigênio da propaganda eleitoral na televisão, fica impedido de alçar voos mais altos.
DEPOIS DE ver naufragar a candidatura de Roberto Pessoa, Lúcio busca agora, manobra final, romper o isolamento numa aliança com um PT que se mostra, por sua vez, inseguro com os termos de sua aliança com Cid Gomes.

HÁ MAIS obstáculos do que atalhos nessa trilha. Uma parcela amplamente majoritária no PT só sairia do governo se fosse expulsa – algo indefensável como, vá lá, uma aliança formal do governo com o PSDB de Tasso Jereissati.

EM MEIO A esses, tem a “sublegenda” do faz-de-conta: os que gostariam de, ainda que obrigados a lançar candidatura própria, construí-la com base em aparências, de olho em uma recomposição pós-eleitoral com o governo.

PARA TORNAR o cenário de ruptura do PT com o governo estadual ainda menos provável, há de se compreender em que condições uma candidatura petista se tornaria uma ameaça real à hegemonia dos Ferreira Gomes.

A CONDIÇÃO para que um candidato petista entre na disputa com alto teor de combustão seria o apoio – exclusivo – do presidente Lula, cuja prioridade, como sabem os juízes do STF, é eleger Dilma Rousseff à presidência.

PARA ISSO, o presidente não sacrificaria o apoio de um governador com reeleição garantida, a menos que partisse dele próprio o gesto – o que é possível, se mantida a cada vez mais remota candidatura de Ciro Gomes.

DESSE MODO, o quadro crítico – cenário propício a um candidato petista – seria a confirmação de Ciro Gomes na disputa presidencial associada a uma aliança formal do seu irmão governador com o PSDB de Tasso Jereissati.

NESSE CASO, o voraz apego aos cargos e vantagens teria que recuar diante de uma necessidade de interesse coletivo: a preservação da identidade partidária, já tão abalada, sem a qual tudo isso logo mais valerá quase nada.

DO CONTRÁRIO, lançada por conta e risco do atirado que aceitasse o convite à aventura, dividido internamente e à revelia das orientações de Brasília, uma candidatura seria um caminho seguro para alcançar o fracasso.

E NÃO ME venham com aquela de que “a Luizianne se elegeu contra tudo e todos” porque, ali, entre outros fatores, ela enfrentou um governo de joelhos – o ocaso da liderança de Juraci Magalhães – situação oposta à atual.

LOGO, PARA que prospere uma candidatura do PT ao governo – um remake anabolizado do José Airton cá – são necessárias apenas três condições: uma aliança formal entre Cid e os tucanos, o partido unido e o apoio de Lula.

NÃO HÁ ambiente para a primeira. Duvido da segunda. E não creio na terceira. Porque a primeira é uma situação limite, a segunda carece de um idealismo que o petismo já perdeu e a terceira, bem...vocês conhecem o Lula.

MAS COMO tem muito tempo de jogo pela frente e se encontra isolado, Lúcio Alcântara se vale da regra tática – “quem pede, recebe; quem se desloca tem preferência.” – e, no barato, essa movimentação lhe oferece visibilidade.

QUANTO AOS petistas, a manobra é produtiva. Serve, no mínimo, como fator de pressão sobre o governador aliado. Cid tem dado sinais de que pretende maior autonomia na formação de sua chapa eleitoral. A ver.

LÚCIO: uma ilha cercada de votos por todos os lados.

email (pautalivre@ricardoalcantara.com.br).

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