DEPOIS DE meses com seu nome encabeçando a lista nacional de pessoas desaparecidas, a candidata à presidência Marina Silva surge em cena para anunciar um blefe como se fosse a “grande novidade” de sua campanha.
É PURO marketing a decisão divulgada de “não contratar” um profissional de marketing para sua assessoria – um artifício dos piores, pois pode comprometer a eficiência da campanha. É truque. E fajuto.
SABE-SE que a candidata é “verde”, mas, bem assessorada, poderia criar fatos mais relevantes – ela, que não tem produzido boas oportunidades para a exposição de sua imagem. É coisa de quem não tem o que dizer. E ela tem.
AS TAREFAS de um “marqueteiro” – termo ruim, mas de uso comum – não são opcionais: alguém terá que executá-las. Logo, a recusa em contratar um especialista não supera a necessidade de uma operação qualificada.
SUAS FUNÇÕES podem ser exercidas, sim, por uma equipe – coordenador de campanha, instituto de pesquisa, diretor de TV – quando há sintonia suficiente para atualizar os consensos estratégicos sem surtos “egóicos”.
OUTRA COISA, muito diferente, é tentar passar no eleitor a conversa de que a campanha “não tem marketing”, a candidata será apresentada “como ela é”, sem o cuidado de neutralizar suas fraquezas ou potencializar qualidades.
CANDIDATO algum se posta diante das câmeras como quem se deita no divã para a confissão sincera das suas contradições políticas e de suas próprias limitações. Em política – guerra sem armas – tal tarefa cabe aos opositores.
O FACTÓIDE tem a pretensão de colocá-la acima das contradições do processo em que está inserida numa tentativa tola de entorpecer o eleitor com um tipo messiânico de encantamento. A Marina real é bem melhor.
MARINA: o blefe do "no marketing".
Fato e versão
O FATO: o PT de São Paulo, maior núcleo regional do partido, onde estão algumas das suas principais lideranças, convidou Ciro Gomes para ser candidato ao governo daquele estado, que concentra 1/3 do PIB do país. A VERSÃO: em entrevista à TV Brasil, Ciro Gomes disse que “o PT está acostumado a tratar seus aliados como se fossem seus empregados” e reclamou por maior respeito a ele mesmo.
AINDA QUE tenha procedência geral, a crítica não se aplica ao seu caso: embora não alcance suas expectativas, a oferta de apoio a uma candidatura em São Paulo é um gesto largo. “Tratado como empregado”, ele não foi.
CLASSIFICOU, ainda, José Dirceu como “chantagista” por ter dito, em suas andanças pelo Ceará, que o PT poderia lançar candidato ao governo do estado, caso Ciro insistisse em manter sua candidatura presidencial.
O QUE DISSE José Dirceu representa um ato legítimo de pressão política. Tomar seu gesto como “chantagem” não é próprio de quem espera somente respeito. Mais que isso, exige obediência. Ciro perdeu a dimensão das coisas.
Isso aí é contra ou a favor?
HÁ UM TIPO de linha de defesa que conspira contra a própria causa Um bom exemplo são os argumentos que Tasso Jereissati sugere em entrevista à Isto É para construir o discurso de campanha para o candidato do seu partido:
1 – DEMONSTRAR que os tucanos (ao contrário dos petistas, se supõe) têm condições de “fazer um governo sem roubo e sem escândalos”. Difícil. Teriam que começar expurgando o DEM da coligação e, depois, explicar a privataria.
2 – DEFENDE UMA “política externa mais equilibrada”. Na conjuntura brasileira, recorrer ao tema como apelo eleitoral é quase uma confissão de impotência. Cuidado: ataques nesse front podem matar os eleitores de tédio.
3 – PREGA UMA “maior eficiência nos serviços de saúde”. O argumento tem a força de um coice de calango. Na era Lula, nada ocorreu relacionado ao tema que tenha atingido de maneira relevante a popularidade do governo.
PELO QUE há de eleitoralmente frágil nos argumentos usados, José Serra pode supor que Tasso queira trabalhar contra ele – de novo! No mínimo, manterá o senador cearense na conta de um formulador dispensável.
.Da utilidade geral do uso de aspas.
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